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A Literatura Infantil PARA, COM e NA Escola

A relação entre a Literatura Infantil e a escola foi breve e diretamente comentada em artigos anteriores, nos quais falei sobre o contexto histórico do surgimento da primeira e da transformação da segunda.



Retomo, agora, de forma mais demorada, essa relação, por entender ser importante e determinante para o desenvolvimento do tema.


Concordo com Ricardo Azevedo ao sugerir que “se a escola, no Brasil, tem sido praticamente o único mediador da leitura e da formação de leitores, convém discutir seriamente como ela vem tratando os livros de literatura infantil” (AZEVEDO, 2005a, p. 33).


Como pudemos observar, a relação entre o texto literário para criança e a escola remonta o surgimento do gênero e não se modificou no decorrer do seu crescimento e desenvolvimento.


A transformação da escola após a ascensão do modelo familiar burguês não foi fortuita. A escola institucionalizou-se à medida que a burguesia convocou-a à formação e à “manipulação da criança, conduzindo-a ao respeito da norma vigente, que é também a da classe dominante” (ZILBERMAN, 2003, p. 23).


A Literatura Infantil não ficou de fora dessa convocação. Daí, a sua relação com a escola estar profundamente ligada ao seu surgimento.


À medida que surgiram, os primeiros livros voltados para a criança consistiam, basicamente, na transmissão de valores manipuladores para a disseminação da norma que vigorava na época.


Além disso, Zilberman (2003) recorda-nos que os primeiros livros para crianças foram escritos por pedagogos e professores, que o faziam com intuito educativo.


Ou seja, a Literatura Infantil vem impregnada de pedagogismo desde o seu nascimento, embora não seja essa a sua natureza e função.


Esses fatos, embora sejam apenas a ponta do iceberg, mostram a delicada relação entre o gênero e a instituição.


Isso porque a Literatura Infantil é, independente do destinatário ou do adjetivo que a acompanha, Literatura e, como tal, tem natureza artística, a quebra com o normativo e o pedagógico.


Para conversarmos um pouco mais sobre a Instituição e o texto literário para a criança, usarei três proposições ― PARA, COM e NA ―, que auxiliarão na compreensão dessa relação e na conscientização do importante papel do professor para que ambas ― escola e Literatura Infantil ― cumpram o seu papel sem macular a natureza e a função uma da outra.


A Literatura Infantil PARA a Escola


Ao acompanhar o contexto histórico do surgimento da Literatura Infantil, observo que fatos como a ascensão da família burguesa, o surgimento do sentimento da infância e a institucionalização da escola não somente marcaram o gênero, mas desencadearam o seu nascimento.


Podemos dizer que, se os primeiros livros escritos para crianças não foram feitos para a escola, foram criados para a manutenção da ordem vigente, para a formação de indivíduos capazes de obedecer aos interesses burgueses e salvaguardá-los.


Tais livros vieram marcados por um pedagogismo e um didatismo que, até os dias atuais, faz com que a Literatura Infantil não seja bem aceita por alguns críticos literários.


Cabe ressaltar que, de forma equívoca, e desde o seu surgimento, a literatura é utilizada por alguns como um instrumento de manipulação e letramento da criança apenas. Ou seja, é como se o texto literário, diferente do que é, fosse escrito para a escola e não para a criança, rompendo, assim, com a sua natureza.


Azevedo (2005a) alerta-nos para o fato de que utilizar os textos literários como simulacros de livros didáticos, para o ensino da língua ou para ilustrar temas científicos, significa reduzir e descaracterizar a literatura, fazendo com que perca sua essência e deixe de fazer sentido.


Estes fatos tornam problemáticas as relações entre a literatura e o ensino. De um lado, o vínculo de ordem prática prejudica a recepção das obras; o jovem pode não querer ser instruído por meio da arte literária; e a crítica desprestigia globalmente a produção destinada aos pequenos, antecipando a intenção pedagógica, sem avaliar os casos específicos. (ZILBERMAN, 2003, p. 16).

Contudo, não se pode desejar a total separação da Literatura Infantil e ensino, tendo em vista que é a escola o lugar privilegiado para a utilização e o fomento da leitura dos textos literários, como veremos a seguir.


A Literatura Infantil NA Escola


Para refletir acerca da presença e importância do texto literário para a criança na escola, é preciso considerar, com Azevedo que:


Em tese, livros de ficção e poesia deveriam ser encontrados em livrarias e bibliotecas, escolhidos espontaneamente pelo leitor e lidos em casa ou em qualquer lugar. Infelizmente, temos, no Brasil, poucas bibliotecas, poucas livrarias e livros caros para os padrões de renda da maioria da população. (...) Nesse contexto adverso, a escola tem sido, indiscutivelmente, o grande e mais importante espaço mediador da leitura e da formação de leitores. Nela, grande parte das pessoas tem sua primeira chance de estabelecer contato com textos de ficção e poesia. (AZEVEDO, 2005a, p. 25-26).

Somo a isso o fato de ser “a sala de aula um local privilegiado para o desenvolvimento do gosto pela leitura, assim como um campo importante para o intercâmbio da cultura literária.” (ZILBERMAN, 2003, p. 16).


Assim, a escola é, hoje, a esperança para formação de um país leitor e, consequentemente, reflexivo, crítico e desenvolvido.


Dito isso, não se pode, com a desculpa de valorizar o caráter artístico e estético da Literatura Infantil, excluí-la do ambiente de ensino, pelo contrário.


Além disso, veremos o quanto é importante para o leitor em formação estar cercado de pessoas que lêem.


Ora, numa visão geral, sabemos que as casas não têm mais espaços para a leitura, menos ainda a criança é cercada de leitores. “Existe, porém, uma segunda chance: a escola. O momento e espaço da salvação da literatura, da possível descoberta e formação do futuro leitor.” (MACHADO, 2001, p. 117).


Na escola, e não a serviço dela, a Literatura Infantil, como arte, inútil ― “no sentido de que, objetivamente falando, não serve para nada e nem pretende ensinar nada” (AZEVEDO, 2008, p.6) ― é fundamental e atualmente necessária.


Veremos a seguir que, com a escola, o texto literário para a criança assume outra missão. Certamente, ela difere da assumida anteriormente, que era a de moldar as crianças, segundo a norma vigente na época da ascensão da família burguesa.

A Literatura Infantil COM a Escola


A Literatura Infantil com a Escola (professores, funcionários, gestores, comunidade, pais, alunos e colaboradores) são, a exemplo do que aconteceu com o surgimento das primeiras obras escritas para as crianças, convocadas para uma missão.


Essa missão, porém, quase oposta à primeira, consiste no rompimento da dominação da criança pelo adulto. Ou seja, há que se romper com a formação de um ser passivo, não reflexivo e totalmente inconsciente e impotente diante de sua condição humana.


Além disso, enquanto instituições, a escola e a literatura podem provar sua utilidade quando se tornarem o espaço para a criança refletir sobre sua condição pessoal. Pois de um modo ou de outro, escola e literatura infantil têm sido o que restou para a infância, após o êxito no seu processo de ilhamento. (ZILBERMAN, 2003, p. 24-25).

Para essa missão, o professor precisa assumir sua posição de vanguarda e fundamental importância. Pois é ele o principal agente tanto da Literatura Infantil, enquanto leitor e mediador, quanto da escola, enquanto formador.


Me diga, qual sua opinião?


Um abraço,


Vivi


Importante: Para conferir toda a referência bibliográfica dos meus textos técnicos, acesse aqui.


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