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Como surgiu a Literatura Infantil e por que isso influencia na educação dos seus filhos?

Neste post, vou falar do surgimento dos primeiros livros escritos para crianças, do seu contexto histórico e do seu estreito relacionamento que eles têm com a escola a partir daquela época.



Em um outro momento, também quero falar com você sobre esse relacionamento da Literatura Infantil com a educação formal, utilizando três proposições que nos ajudarão a compreender esse relacionamento permeado por conflitos e opiniões antagônicas: a literatura infantil PARA, COM e NA escola.


Em um continente distante... Nasce a Literatura Infantil


A Literatura Infantil, nas últimas décadas, transformou-se em objeto de estudos em strictu e lato sensu, sendo um campo vasto para isso.


O seu surgimento foi desencadeado por uma série de transformações, legitimadas no decorrer dos séculos XVII e XVIII. Entre elas, destaco a alteração da estrutura familiar, com a ascensão da família burguesa, o surgimento do sentimento da infância e a formalização da educação.


O núcleo conjugal familiar, tal como o conhecemos atualmente, inexistia até o século XVII. Contudo, sua transformação ocorreu, de forma lenta e profunda, desde o século XV.


Essas mudanças ocorreram à medida que a família modificou a sua relação com a sociedade e, posteriormente, o seu relacionamento interno com a criança

.

A criança, na Idade Média, era considerada como um mini-adulto e não tinha reservado para si um mundo à parte; muito pelo contrário, logo que deixava os cuidados iniciais da mãe ou da ama, a criança misturava-se aos adultos e com eles convivia.


Não existia a infância tal como a concebemos hoje.


Contudo, isso não significa que não houvesse afeto e amor pelos infantes, porém, os laços que os prendiam à sua família não eram estritamente afetivos, mas prioritariamente morais e sociais, sendo comum os nobres mandarem seus filhos para outras famílias, a fim de aprenderem boas maneiras, por meio da prática.


Nesse mesmo período, a escola mantinha a não diferenciação etária e, muito embora os frequentadores mais jovens estivessem na faixa dos 10 anos de idade, eles permaneciam misturados a velhos e adultos que possuíam o desejo de aprender.


A realidade moral e social da Família Medieval transformou-se a partir da ascensão do modelo familiar burguês.


Esse novo modelo, fechado, e não mais aberto e extenso como anteriormente, trouxe alterações importantes na atitude dos pais para com a criança. Ela passou a assumir um valor sentimental no núcleo da família.

As alterações no modelo familiar Medieval para o Burguês e o nascimento do sentimento da infância, tal como a concebemos atualmente, transformaram também a escola.


Ela, que até a Idade Medieval não era um instrumento de ação educacional preponderante, transformou-se e se tornou institucionalizada, semelhante à forma que conhecemos atualmente.


Dentro desse contexto histórico, no século XVII, durante o classicismo francês, surgiram obras escritas para adultos, mas que posteriormente viriam a ser englobadas como Literatura Infantil: as Fábulas, de La Fontaine (1668-1691), As Aventuras de Telêmaco, de Fénelon (1717) e Contos de Mamãe Gansa, de Charles Perrault (1697).


Porém foi no século XVIII, na Europa, que surgiram as primeiras obras publicadas para o público infantil.

Diante dessas transformações na sociedade, advieram formas de controle do desenvolvimento intelectual da criança, considerada um projeto de adulto.


Ela deveria ser preparada para desempenhar sua função na sociedade quando atingisse a maturidade. Assim, tanto a Literatura Infantil quanto a escola “são convocadas para cumprir essa missão” (ZILBERMAN, 2003, p.15).


Para o cumprimento dessa missão, a aproximação do gênero literário infantil e da instituição escolar é inevitável.


Enquanto isso, em terras de Monteiro Lobato...


No Brasil, com a implantação da Imprensa Régia, no século XIX, surgiram os primeiros livros infantis, traduzidos e adaptados dos sucessos da Europa.


As primeiras publicações direcionadas à criança serviam, inicialmente, a exigências ideológicas e pedagógicas, tal como ocorreu no seu surgimento na Europa.


Embora tenham surgido traduções de livros como As aventuras pasmosas do Barão Münchhausen, em 1818, não se pode dizer que houve uma publicação consistente no século XIX, pois só em 1848 o mesmo livro teve uma nova edição.


Somente com a Proclamação da República (1889), a produção de livros para crianças consolidou-se no país.


A sociedade brasileira encontrava-se em processo de mutação, de rural para urbana, e havia um público sedento por conhecimento. “As obras que surgiram nessa época possuíam característica de tentar ser modelares não só no plano temático, mas especialmente no nível da linguagem.” (AGUIAR, 2001, p. 25).

Foi com Monteiro Lobato, em 1921, que a Literatura Infantil tomou um novo rumo.


Em A menina do narizinho arrebitado (segundo livro de leitura para uso das escolas primárias), o autor inaugurou um novo tempo para o livro nacional voltado para a criança, inserindo a oralidade tanto na fala da personagem quanto no narrador, com uma linguagem compreensível e atraente.


Entre 1920 e 1945, cresceu o número de publicações voltadas para a criança, sendo a década de 30 um período fértil para a Literatura Infantil, até então quase exclusiva dos livros de Monteiro Lobato e Tales de Andrade.


Ocorreu um crescimento quantitativo e uma grande atração dos escritores por esse tipo de publicação. Tal crescimento não foi qualitativo, sendo que. dos 605 livros publicados em 1942, 434 eram traduções, 171 obras originais e cerca da metade, considerada de pouca qualidade por alguns.


Entre 1945 e meados da década de 60, a literatura infantil brasileira “viveu um período de retrocesso no que diz respeito à criatividade” (AGUIAR, 2001, p. 26), onde o modelo de Monteiro Lobato foi utilizado de forma repetitiva, sem nenhuma novidade por parte dos autores.


Após a década de 60, a publicação de livros infantis tomou um rumo diferente.


Diante da repressão, alguns autores tomaram a voz da criança para manifestarem-se contra a ordem vigente, por meio de símbolos e metáforas. Foi um período fértil com a publicação de livros consagrados até os tempos atuais.


Na década de 70, o livro tomou um valor mais comercial, porém algumas publicações pecaram pelo pedagogismo e pela imbecilização da infância.


Na década de 80, a “cultura letrada atingiu um público maior, apoiada pelos meios de comunicação” (AGUIAR, 2001, p. 31), o que desencadeou uma maior publicação de obras voltadas para a criança e enfraqueceu a qualidade das publicações.


Esse quadro de grande número de obras estende-se até os dias de hoje, onde o livro para a criança tem um tratamento visual tão importante como a linguagem escrita e os recursos gráficos são largamente utilizados.


Ao longo de pouco mais de 100 anos, a Literatura Infantil Brasileira transformou-se e, com ela, o seu leitor.


As ações, tanto do Poder Público quanto do setor privado, voltadas para o fomento da leitura, e a preocupação com o livro voltado para a criança remetem-nos à importância da formação de um professor leitor e de uma família de leitura.


Nesse contexto, o Mini Mega Leitor e o Programa Crescer Leitores buscam levar Literatura Infantil Superpoderosa para formar leitores tanto em casa como na escola.


Não sabe ainda o que é Literatura Superpoderosa? Confere aqui um post que fiz lá no blog do Mini Mega Leitor!

Importante: Para conferir toda a referência bibliográfica dos meus textos técnicos, acesse aqui.

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